domingo, novembro 19, 2006

Crítica de REP a "Aorta tocante"

Américo Rodrigues: “Aorta Tocante” (Bosqu-íman:os Records)

O vocalista e poeta sonoro português não pára de nos surpreender. O seu particular estilo de intervenção, que podemos identificar como um misto de Henri Chopin e Phil Minton, mergulha em “Aorta Tocante” num caldo étnico que mais exponencia a sua opção pelo lado primal da utilização da glote, o fornecido por índios do Rio Grande do Sul, no Brasil, ou de Salta, na Argentina, e por músicos locais que tocam instrumentos como a parceria, a marimbaça, o conduite baixo, o conduite alto (Antúlio Madureira, de Pernambuco) ou o que é identificado como “violino indígena” (o argentino Wichi Mataco). E por falar em instrumentos, o mais importante que neste estranho e cativante disco encontramos além da voz é um simples pecíolo de aboboreira, também conhecido por “trombone de aboboreira”, o que levou o autor a definir esta música como “vegetal”, à semelhança, por exemplo, de outras experiências realizadas com cactos (John Cage, Christoph Rutimann / Fredy Studer) ou com bambu (David Hopkins, Makoto Yabuki). A faixa “O Som que Circula nas Veias” foi antes incluída numa colectânea do Leonardo Music Journal organizada por Jaap Blonk, constituindo um óptimo exemplo de encontro de culturas e do que podem ter de comum as músicas de raiz e as práticas experimentais, e o último tema, “O to que do tu bo”, é uma manipulação electrónica realizada por César Prata, bastante distinta das que antes Kubik procedeu dentro das coordenadas da “sampling music”.

Rui Eduardo Paes
http://rep.no.sapo.pt/criticas_A.htm

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